Mostra 3
Erupções de um mundo extremo
Produtividade. Ansiedade. Dinheiro. Racismo. Machismo. Política. Sexo. Não há como negar que o mundo ao nosso redor é intenso. Para o bem ou para o mal, nosso mundo é intenso. Nossos corpos e pensamentos estão sempre sendo bombardeados de sentidos e sensações extremas. “Erupções de um mundo extremo” é uma mostra criada justamente para apresentar leituras desse mundo – em som e imagem. Porém, não são quaisquer leituras. Um mundo extremo precisa de representações extremas. Esse viver intenso clama por filmes intensos. E falo, aqui, não apenas de conteúdo, mas também de linguagem.

No conteúdo, temos, nessa mostra, filmes que lidam com a loucura interna, pessoal, como “Estilhaços” e “Quarentena”, assim como filmes que abordam uma loucura externa, social, como “Noite Macabra” e “Um Conselho”. Filmes que mexem com uma vingança racial e sexual, como “Veneno” e “Nervo”. Temos também filmes que mergulham numa reflexão sobre o consumo sexual, como “Desejo” e “Macho Carne”. Para mim, já partimos de premissas provocantes. Loucura. Sexo. Racismo. Machismo. Assuntos que nos colocam num lugar de indignação e/ou reflexão da gente para com a gente e da gente para com o mundo ao nosso redor. Já partimos de algo instigante.

No quesito trama, acredito que temos filmes que não nos permitem piscar. Filmes que mantêm o espectador preso à obra. E, de preferência, sem fôlego. Aonde aquela personagem quer chegar? O que vai acontecer com eles? O que mais aquele corpo pode sofrer nos próximos minutos? Estamos presos à curiosidade da próxima virada narrativa ou à expectativa do próximo sentimento que pode nos tomar. Aflição? Aversão? Satisfação? Temos aqui tramas intensas contadas com sentimentos extremos.

Já a linguagem escolhida para os filmes condimenta ainda mais nossa relação com seu conteúdo. Esses filmes se utilizam do cinema de gênero para mexer ainda mais com a gente. Eu, particularmente, amo! O cinema de gênero nos oferece representações de certas monstruosidades do mundo ao nosso redor como monstros reais. O cinema de gênero imprime na tela sensações extremas próximas do que sentimos, quando lidamos com certos assuntos na vida real. Um tipo de cinema que mexe com nossa segurança. Um tipo de cinema que liga nosso estado de alerta. Que atiça nossa curiosidade com o estranho. Para mim, todos os filmes dessa mostra fazem isso de alguma forma. Todos utilizam, em alguma instância, uma estética visceral. Sangue. Carne. Monstros. Jump scare. Presenças ameaçadoras. Olhares intimidadores. Sorrisos maliciosos. Corpos em movimentos estranhos. Gostou?

Então, se vocês gostam de filmes intensos, sejam bem-vindas e bem-vindos. Para os que são de beber, peguem suas bebidas! Para os de comer, peguem suas comidas! Para os que precisam de concentração total, apaguem as luzes, fechem as portas e subam o som! Bem-vindos/as à 2ª Fantacine e à mostra “Erupções de um mundo extremo”.
Ian Abé
Filmes